Maria Maria

"Ela tem um dom, uma certa magia, uma força que nos alerta; Uma mulher que merece viver e amar como outra qualquer do planeta...
Ela é a dose mais forte e lenta, de uma gente que ri quando deve chorar, e não vive, apenas aguenta...
Ela tem força, raça, gana, manha, graça e sonho, e mistura a dor e a alegria...
Ela traz na pele essa marca e possui a estranha mania de ter fé na vida"

(Milton Nascimento)
14/03/2010



sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

PRETO E PARDO

Eles não são velados. Ficam estirados nos acostamentos como indigentes esperando o carro do lixo passar. Enquanto isso sua carne apodrece ao sol. E o homem? O homem transita apressado sem olhar de lado. Hoje do ônibus o meu olhar sonolento observou uma cena de cortar coração enquanto buzinas irritadas gritavam aos meus ouvidos. Esqueci aquele cotidiano irritante e me transportei para a cena triste, observando um cachorro preto olhando o corpo do seu amigo pardo. O preto roçava a patinha na barriga daquele que deveria ter compartilhado com ele momentos de liberdade plena, boas aventuras, corridas alegres, mas também, talvez, a fome e o abandono. O preto olhava silencioso como a perguntar por que o pardo não se movia mais. Em volta não tinha o acúmulo da população curiosa. Não tinha quem explicasse a ele o por quê da imobilidade do seu companheiro. Ele estava só e não tinha o afeto que se dá a quem perde um ente-querido. Não tinha quem o tirasse dali uma vez que ele também corria perigo. Não tinha uma vela, um lençol branco a cobri-lo ou uma prece. Também não tinha IML. Mas o pardo ali inchando rapidamente faz parte da espécie animal mais digna que Deus colocou no mundo. É o que não trai, não magoa, pelo contrário, guia e protege, sem contar que muitas vezes entende mais o ser humano que qualquer outro ser humano. Ele dá sua vida pelo amigo-homem. É ele que alegra a vida de muitos solitários lambendo mãos que muitas vezes o bateram usando táticas disciplinares. O cachorro é aquele que espera ansioso a chegada do seu dono para um aconchego alegre traduzido no vai e vem ritmado de sua calda. Mas, infelizmente, em sua maioria não recebe os mesmos cuidados, a mesma proteção, a mesma consideração. 05/10/2006

2 comentários: