Maria Maria

"Ela tem um dom, uma certa magia, uma força que nos alerta; Uma mulher que merece viver e amar como outra qualquer do planeta...
Ela é a dose mais forte e lenta, de uma gente que ri quando deve chorar, e não vive, apenas aguenta...
Ela tem força, raça, gana, manha, graça e sonho, e mistura a dor e a alegria...
Ela traz na pele essa marca e possui a estranha mania de ter fé na vida"

(Milton Nascimento)
14/03/2010



sábado, 2 de outubro de 2010

VESTIDO VERDE-ÁGUA

Era o último dia de 2009. Estávamos num condomínio fechado localizado num bairro perto da sua casa. Era um lugar bonito, simples, e agradável. Em todos os prédios ouvia-se a alegria de famílias reunidas ao som de suas músicas preferidas, mesinhas arrumadas com petiscos, refrigerantes, bebidas. Os homens faziam churrascos, as mulheres traziam pratos bem decorados para compor as mesas. As crianças brincavam com suas roupas novas de final de ano, e todos conversavam em voz alta. O som de músicas variadas vinham de todos os lugares, misturando-se com vozes e fogos de artifício que anunciavam um novo ano que chegaria dentro de poucas horas.
A sua família que tão bem me recebeu fazia parte desse quadro. Todos estavam alegres e surpresos com nossa presença, e o seu querido avô, me tratou de uma forma muito especial quando chegamos, dedicando toda a sua atenção para nós. Seu Olímpio, aos oitenta e tantos anos de idade parecia uma criança feliz a se sentir amado e com certeza, vivendo intensamente aqueles momentos de confraternização ao redor dos filhos, genros, netos e amigos. Num certo momento ele me chamou para dançar e você olhava para nós dois com admiração e um sorriso lindo nos lábios.
Você cuidava de mim, literalmente.
Me observava o tempo todo e demonstrava uma certa preocupação em fazer sempre o melhor para que eu me sentisse à vontade. Fazia carinho em minhas mãos, e de vez em quando perguntava se estava tudo bem comigo. Me chamou para dar umas voltas em torno do condomínio. Você me conhecia bem e sabia que eu detestava ficar parada por muito tempo. Caminhamos abraçados, e num banquinho embaixo de uma árvore sentamos de mãos dadas. Conversamos bobagens e eu acendi um cigarro. Observei a fumaça olhando para o céu de final de ano. Era um céu anil cheio de estrelas. Como eu queria que naquele momento, alguma estrela me avisasse que seria um dos nossos últimos momentos juntos. Eu pediria por tudo, que tudo fosse congelado, ali, naquele momento de paz entre nós. Pediria a DEUS, aos anjos, às estrelas, ao céu e a você.
Mas eu não sabia, pelo contrário, achava que estávamos começando uma nova vida juntos, um novo ano juntos, e meu pensamento era só de sonhos e de uma total despreocupação com relação ao futuro do nosso amor. Eu tinha você ali do meu lado e achava que o teria para sempre. Aquelas mãos macias que acariciavam as minhas, me passavam uma segurança tão grande!
A tua voz mansa dizendo do seu amor por mim, o seu corpo tão coladinho ao meu, o seu olhar apaixonado a admirar o vestido verde água que cobria meu corpo só me transmitia amor e paz. Eu me sentia linda, jovem, amada e feliz. Me sentia a pessoa mais importante da sua vida. Desta noite restaram as lembranças o vestido verde-água... e só!

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